Vamos dar apoio aos companheiros da Guarda Metropolitana
“Queremos deixar a situação como está ou queremos lutar para melhorar?”“Lutar”, responderam em uma só voz os Guardas Civis Metropolitanos (GCM) à pergunta de Carlos Augusto Silva, presidente do Sindicato dos Guardas Civis Metropolitanos (Sindguardas).
Desde às 14h dessa quarta-feira (19), munidos de apitos e narizes de palhaço, cerca de 450 trabalhadores da segurança pública se dividiram entre o plenário e a entrada da Câmara Municipal de São Paulo para exigir do governo um pronunciamento sobre as promessas que o prefeito Gilberto Kassab fez em 2008.
Em setembro do ano passado, às vésperas das eleições municipais, Kassab era candidato à reeleição e apresentou uma série de propostas para a GCM: nova lei de remuneração dos guardas e aprimoramento do Plano de Carreira, aumento do efetivo, contratação de veículos de apoio (trailler) com sanitários e sala de refeição, aquisição de novos uniformes, armamento moderno e novas motocicletas, implantação do sistema digital de telecomunicação e aquisição de rádios para todos os guardas em atividade operacional. Nenhum desses pontos foi cumprido.
Diante do desrespeito do governo municipal, expresso na postura do líder do governo, José Apolice Neto (PSDB), o Netinho, que sequer aceitou receber a guarda, a categoria formada por mais de 6 mil trabalhadores decidiu em assembleia entrar em greve no início da noite. Já nesta quinta (20) não ocorrerão atividades de fiscalização e apreensões do comércio ambulante sem a presença de agentes de apoio. Os rádios das viaturas também não serão atendidos, a não ser em casos de emergência. A partir das 0h da próxima terça-feira (25), a corporação paralisará todas as atividades.
Uma nova assembléia para acertar os detalhes da paralisação acontece na próxima segunda (24), às 18h, na quadra do Sindicato dos Bancários de São Paulo, Osasco e Região (Rua Tabatinguera, 192, ao lado da estação Sé do Metrô).
Um discípulo fiel ao mestre
Da mesma forma que o ídolo, o governador José Serra, o fã Kassab não aceita dialogar com o funcionalismo público. “Encaminhamos um ofício em março e até agora não recebemos nenhuma resposta. Conversei com o secretário (Edsom Ortega, Secretário Municipal de Segurança Urbana) e ele falou que o governo tem projeto e vai colocar no tempo que achar necessário. Não negocia com pressão de assembleia”, comentou Silva.
A pauta dos guardas civis metropolitanos inclui 26 itens, dentre eles a reposição das perdas salariais em 17,40% - calculadas pelo Dieese, entre janeiro de 2005 e dezembro de 2008; a extensão do Vale Alimentação a todos os trabalhadores; o respeito à carga horária de trabalho estipulado na legislação (o início e o término da jornada de trabalho devem ser contabilizados na unidade e não na rua em que é feita a operação); a promoção de cursos de capacitação e aperfeiçoamento e o fornecimento de equipamentos e armamento para suprir as necessidades da corporação.
A comparação salarial dos guardas paulistanos com o de outros municípios da Grande São Paulo mostra que a GCM da capital fica em 22.ª no ranking, acima apenas dos trabalhadores de Embu Guaçu, Poá, Suzano e Pirapora.
O salário base inicial de um GCM em São Paulo no início de carreira é de R$ 534,70. Com as gratificações, atinge R$ 855.
E dinheiro é o que não falta, visto que Kassab oferece prêmio a trabalhadores que sequer são ligados à prefeitura. De olho nas eleições para governador, o prefeito encaminhou à Câmara um projeto de gratificação de até R$ 1.800 para policiais militares, funcionários do Estado.
A proposta seria votada ontem e os guardas exigiam que a criação de um Plano de Cargos e Salários para a GCM fizesse parte do projeto. Sem acordo e com a colaboração da bancada da oposição, o projeto foi retirado da pauta para ser reformulado pelo governo. “Nós pedimos a inclusão da estrutura salarial da guarda no projeto e afirmamos que não votaremos nada que não os contemple”, afirmou aos trabalhadores o vereador Alfredo Valente (PT), o Alfredinho.
Uma vida e R$ 1700
Falta colete, falta gás pimenta, falta pessoal para fazer a limpeza nos locais onde os guardas se apresentam e falta combustível e manutenção para as viaturas, muitas delas alugadas a R$ 3 mil por mês.
Outro problema é o desvio de função: a GCM, criada para preservar o patrimônio público, passou também a ter como obrigação controlar os vendedores ambulantes em São Paulo. E como a prefeitura não tem política social, deve ainda administrar a situação das pessoas em situação de rua.
Tudo isso Helena (o nome foi trocado para evitar perseguição do prefeito) conhece muito bem. Como todo os outros companheiros, está há mais de uma década sem receber aumento real de salário. Após 12 anos dedicados à profissão de guarda civil e convivendo diariamente com a insegurança, o assédio moral e a falta de estrutura, cria três filhos com R$ 1700, já incluindo o vale alimentação, o vale refeição e o vale transporte. Líquido, o salário é de R$ 1300.
Ela acorda às 04h para deixar os filhos na escola, entra às 07h no trabalho e volta para casa às 21h. Deveria fazer uma jornada de 12 horas e descansar 36, mas também falta efetivo e não são poucas as vezes em que precisa trabalhar nos dias de folga. “Houve um momento de valorização da categoria, no governo da Marta, mas quando o Serra assumiu e depois como o Kassab, entramos num período de precarização”, conta.
Por fim, Clovis Roberto, diretor executivo do Sindguardas, deixou um recado aos parlamentares. “Treze pessoas se elegeram dizendo defender a categoria. Agora é a hora de mostrar que está ao lado da guarda e usar a fita preta no pulso como forma de protesto porque depois não adianta vir pedir voto.”
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